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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O Pequeno Ladrão

Introdução

Faça o seguinte: Pegue um punhado de feijão. Depois, pegue a tampa de um pote de um cosmético da sua mãe. Mas, atenção, a tampa tem de ser cilíndrica e fácil de cortar, tipo tampa de desodorante (Só que tem de ser mais fina e menor). Pegue uma faca de pão e corte o fundo da tampa. Não peça ajuda para o seu pai, porque ele vai lhe dar uma bronca daquelas. Cuidado para não cortar os dedos. Dói pra cacete! Aí arrume uma bexiga ou balão de aniversário. Dê um jeito de fazer a tampa entrar na boca da bexiga. Pronto, Coloque um feijão dentro da bexiga. Segure pela tampa e puxe, puxe, puxe a bexiga. Mire no seu irmão e solte a mão que está puxando a bexiga. Viu que porrada?

Agora faça várias peças iguais a esta. Sua mãe vai ficar um pouco brava, mas mãe é mãe, né?
Reúna a molecada. Divida em 2 grupos. Distribua uma para cada moleque, e comecem a guerrear.Vale assim: O moleque que receber uma feijãozada sai da brincadeira. Vence o time em que restar pelo menos 1 moleque sem mancha roxa. É legal que nem paintball e não faz aquela melequeira. Só não pode convidar criança muito pequena, porque ela vai chorar e correr contar pra mãe.                                   
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- Chispa daqui! - gritou o velho empunhando ameaçadoramente uma vassoura.
Ágil, o garoto desapareceu entre as gôndolas da pequena mercearia e ganhou a rua.
- Ladrãozinho de uma figa! - continuou ele - Se é possível?!
Dona Mara dos fundos ver com quem o marido ralhava:
- O tal pirralho! Já é a quinta vez. - desabafou-lhe - Qualquer hora faço uma desgraça!
- É só uma criança... - ela ponderou - e o seu coração...o médico disse...
- Criança?? Aquilo é um rato, um...
- Tenha calma, homem. Olha, me diga quem é a mãe do menino e com jeitinho a gente resolve esta bobagem.
- E eu sei lá quem é a mãe dele? Se é que tem mãe, aquela praga!
- Manoel, Manoel, Nós conhecemos a cidade inteira. Quarenta anos atrás deste balcão...se eu já tivesse visto o menino aposto que saberia quem é.
- Isto é você, dona esperta. Eu só sei que o danado vive me roubando!
- Por curiosidade, o que ele vive roubando? - disse ela segurando o riso.
- Depende...elástico para papel, garrafa de vinagre, grampo de cabelo...isso quando dá pra ver.
- Elástico? Vinagre? Grampo? - ela estranhou - Tem certeza, Manoel?
Não só tinha certeza, como sabia que aqueles itens eram componentes essenciais para se construir uma arma infalível para caçar passarinhos: o vinagre, não o líquido inútil, mas a tampa plástica da garrafa de marca específica, a única com formato ideal; os grampos, abertos em “v”; o elástico esticado para o disparo...ele foi relembrando sua infância, a técnica de caça...sua técnica. Se Dona Mara tivesse lhe dado filhos ele certamente teria podido transmitir suas experiências, suas descobertas, mas agora surgira aquele bandidinho para subtrair-lhe mais que mercadorias, a sua própria invenção...



As visitas furtivas do menino teriam prosseguido por mais dois ou três anos, porquanto nutrisse a paixão por caçar, mas ele as interrompeu desde o dia em que sua mãe, num estado de desconsolo que ele jamais tinha visto, o levara a um velório limitando-se a dizer que haviam perdido alguém muito especial, que passara a vida inteira sem saber que tinha uma filha e um neto. E foi quando Dona Mara, debruçada sobre o caixão do marido, conheceu o menino sem saber que se tratava do pequeno ladrão.