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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pamonha de Piracicaba

Domingo, pra mim, é dia de dar carinho pra patroa. Ali pelas 11 da manhã, depois do cafezinho. Pra quem é casado, trabalha de segunda à sexta até as 8 da noite (depois vem a novela e depois dela o sono, para minha mulher, bem entendido) e reserva o sábado para o supermercado, lavar o carro, consertar alguma coisa que os meninos quebraram, gastar dinheiro no shopping e visitar a família, não necessariamente nesta ordem, só resta mesmo o domingo. Não dá pra ser depois do almoço, que almoço de domingo pesa até na segunda, nem à noite, que tem os programas de futebol na TV.
Pois é: chega aquele horário, os meninos acordaram e estão na sala grudados no videogame. Estamos na cozinha. Saio de fininho e vou pro quarto. Minha mulher enrola um pouco e faz a mesma coisa. Não podemos ir ao mesmo tempo, porque os sacaninhas percebem e aí, babau.
Muito bem: porta trancada, buraco da fechadura devidamente vedado e partimos pras preliminares. De repente, o mais velho bate à porta:
- Paiê, é a vovó no telefone! – grita de lá.
- Hunf...diz que eu ligo depois! – berro daqui.
Meio minuto depois, ele volta:
- Paiê, ela só quer saber se a gente topa ir almoçar na casa dela!
- Tá bom! Tá bom!
Meio minuto depois, de novo:
- Paiê!
- Quié, catso?
- Ela quer saber se você prefere molho branco ou vermelho no macarrão!
- Ai, Deus. – resmungo – Tanto faz! – grito.
- Molho branco! – opina minha mulher, já não achando de todo ruim a ligação.
Voltamos para o namoro. A coisa esquenta e quando partimos para a ação, propriamente dita...
- Pamonha! Pamonha de Piracicaba! – Grita estridente um alto-falante bem debaixo da janela. Tento me concentrar no que estou fazendo. Tento não ouvir...
- Docinha, pamonha! É o puro suco do milho! Pamonha fresquinha de Piracicaba!
- Não acredito que o cara estacionou embaixo da nossa janela. – vou diminuindo o movimento.
- Não para, meu bem. – ela tenta me animar, mas aí tropeça feio: Põe toda essa pamon...
- Saco, saco, saco!!! – Droga de Piracicaba! – Cocô de Piracicaba! Catso de Piracicaba! - berro em 200 decibéis.
Ela acaba rindo, comigo sentando na beira da cama, puto da vida, vendo o meu, digamos, equipamento, regredir.
Levanto, visto a calça de pijama e vou até à sala fumar um cigarro. O mais novo pergunta se eu vou comprar pamonha. Se não fosse meu filho, mandava praquele lugar.
Volto pro quarto. Minha mulher tá de bruços, cochilando. Como ela consegue? Para o namoro no meio - um cara se esgoelando lá fora – e, dorme? Ai que vontade de apagar a bituca no traseiro dela.
Começamos a discutir. Ela me acalma. Me beija, faz carinho. Estamos retomando e ouço a campainha. Não me desconcentro. Agora não paro mais...
- Paiê! – Agora é o mais novo.
- Mas será o Benedito?!
- Não, pai, é o vizinho pedindo para puxar um pouco o carro porque está atrapalhando a garagem dele.
- Deixa que eu vou - Diz ela já saindo da posição.
Cinco minutos e um cigarro depois, ela volta. Respiro fundo e parto outra vez ao amor, mas não antes de jurar a pele do moleque que vier bater novamente à porta do quarto. Agora estamos indo bem, quase lá e...é a vez do celular vibrar e tocar Brasileirinho em cima do criado-mudo.
- Não vou atender!
- Mas bem, e se for algum problema? – Ela argumenta já pegando e me estendendo o aparelho.
Olho no identificador. É meu chefe. Melhor atender...
- Já acordou? – Pergunta ele e, antes que eu possa dizer alguma coisa, emenda: - Sabe onde eu fui ontem à noite? - E mais rápido ainda começa a me narrar a interminável noitada dele.
Vinte minutos depois ele desliga. Começo a imaginar o que falta vir pela frente. Minha esposa tenta me reanimar. Sofro, mas acabo conseguindo. Estou quase pronto quando sinto uma enorme queimada na nuca. Dou um pulo da cama e ainda acerto uma joelhada na barriga dela. Eu berro, ela berra. No travesseiro, uma abelha agoniza, atraída por um maldito cheiro de pamonha.