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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Assinatura Perfeita

Tirei meu RG quando tinha uns 10 anos. Por volta dos 16 perdi todos os meus documentos. Esqueci minha capanga (urgh! Lembram?) num taxi. Tirei a segunda via e caprichei numa assinatura de quase cinco centímetros de extensão, com um monte de laços, voltinhas, sobe-e-desce e vai-e-vem. Achei uma pintura.
Meses depois, comecei minha vida profissional. Recebi o papelório admissional e, obviamente, não consegui repetir a assinatura. Ninguém conseguiria. Sequer era possível desvendar por onde ela começava e muito menos onde terminava. Gilson, o chefe do departamento de pessoal, me deu um prazo para tirar a terceira via - "Desta vez treine e faça algo que você possa repetir, ok?" - Recomendou.
Meu cargo era Arquivista e como o próprio título sugere, passava o dia todo dobrando zelosamente, grampeando e blocando toda a papelada que circulava pela empresa. Um tempo depois reparei numa assinatura que constava no rodapé de um documento prestes a ser arquivado. Achei linda. É esta! - pensei. Comecei a treiná-la: uma, duas, cinquenta vezes. Ficou uma beleza. Já podia me programar para tirar novamente o RG.
Passados uns dias, circulou pela empresa um memorando corporativo (não existia internet, email, nem microinformática) que informava aos funcionários nova regra para pedidos de adiantamento salarial. Todos tínhamos de ler e assinar no verso.
Quando o papel retornou para o departamento de pessoal, Gilson levou um susto: alguém havia feito o documento passar pelo presidente da empresa. Pior, ele o assinara. O chefe do DP sentiu a forca de perto. Como o documento "rodava" de mão em mão (olha a reforma ortográfica matando os hífens da expressão), não foi possível identificar quem havia feito a besteira. A secretária do "homem" não tinha recordação, afinal o executivo assinava quilos de papel todos os dias.
 Sentindo-se sob risco, Gilson resolveu levar o papel e mostrá-lo pessoalmente ao presidente, esperando esclarecer que, evidentemente, ocorrera um lamentável equívoco. "Onde já se viu, o dono tendo de seguir regras para usar o próprio dinheiro? E se ele pensar que fui eu quem enviou? Tou na rua!" 
Surpreso, o presidente, respondeu que não se recordava do documento. "Me deixe ver" - ordenou.
Foi aí que concluíram o pior. Tinha alguém, nos quadros da empresa, falsificando a assinatura dele.
- Descubra!!!
- Imediatamente, doutor!
Não era muito fácil. Uma cópia para cada um dos 20 andares da matriz. Várias filiais pelo país. Escritórios no exterior.
Antes que o chefe pudesse resolver o caso, entreguei a ele minha terceira via do RG.
Quase perdi o emprego, e ainda tive de tirar, pela quarta vez, o maldito documento.