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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Beto Maluco

Conheço o Beto desde pequeno. Ele sempre foi biruta. A presença dele no meio da turma era certeza de gargalhada.
Éramos vizinhos. A molecada ficava brincando na rua até umas dez da noite, quando alguma mãe aparecia gritando no portão. Valia para todos. Era, assim, uma espécie de toque de recolher. Certa noite, após um berro, ele foi corrrendo para casa, entrou, foi para o quarto e deitou. Só um detalhe: a casa era a minha, não a dele. Acabei vendo minha mãe levando um Beto cambaleante para a casa ao lado.
 Numa ocasião, pegou uma lata de tinta à óleo verde, que o pai usava para pintar o portão da garagem e não titubeou: “vou fazer uma surpresa para o meu irmão mais velho, ele vai adorar”. Pintou - se é que aquilo podia ser chamado pintar -, toda a moto do irmão. Até o assento de couro ficou verde. Só não foi surrado à morte, porque a mãe entrou no meio.
Eu estudava na terceira série, ele, um ano mais velho, na quarta. Também éramos vizinhos de sala de aula. Lembro, naquele ano, que por três vezes ele retornou do intervalo, sentou-se ao meu lado e começou a anotar a lição, até ser percebido e expulso pela minha professora. Não sei dizer quantas vezes ele foi para na diretoria por ter usado o banheiro das meninas. Se a mãe o mandava buscar pão, vinha leite. Se fosse açúcar, chegava margarina. Quando acertava o produto, errava feio na quantidade. Uma vez a mãe precisou mandá-lo 4 vezes ao mercadinho até ele conseguir trazer o que ela havia pedido.
A mãe sofria na mão dele. Consta que um dia, fingindo um ato de loucura, partiu pra cima dela empunhando um canivete. No que ela pensou que ia ser golpeada, ele parou e soltou um "Brincadeirinha!". Pegou 30 dias de castigo. Noutra, salgou todas as jarras de sorvete ainda em estado líquido da sorveteria dela. A freguesia foi quem avisou. Perdeu uma semana de estoque. Num feriado prolongado, convidou a molecada para uma partida de futebol no estádio municipal. Quando todo mundo chegou, descobriu-se que ele havia resolvido que o jogo ia ser diferente. Distribuiu vestidos para os dois times. A turma adorou. Ao término, não sobrou uma roupa sem rasgos. E de quem eram? Da pobre da mãe dele. 
E o Beto cresceu assim. Numa manhã, decidiu, do nada, ir trabalhar fantasiado. Passou numa loja de aluguel de fantasias e alugou o traje completo do Darth Vader. Vestiu, entrou no carro e foi para o escritório. Claro que o gerente não o deixou trabalhar daquele jeito. “Pô, só porque eu sou caixa do banco?”.
Não sei como ele conseguia fazer o caixa bater no final expediente. “Bom...nem sempre eu consigo...”. Acho que não batia dia nenhum.
Certo domingo à tarde, estamos na casa de outro amigo jogando pôquer. De repente, O Beto se levantou, pegou um guarda-chuva deixado num canto, passou por nós e rumou para a sacada do sobrado. Abriu a porta-balcão, armou o guarda-chuva, virou para nós e disse apenas: “Pessoal dá um tempinho que eu vou dar uma voada”.  E não é que ele saltou mesmo? Corremos, mas não a tempo de impedí-lo. O vimos estatelado lá embaixo. Rompeu totalmente o ligamento de um dos ombros.  Acabou com o nosso domingo. Foi preciso cirurgia. E o ortopedista disse que a gente vai escutar pro resto da vida o sonoro “craaac” que o ombro dele faz toda vez que ele movimenta o braço esquerdo.
Houve um carnaval em que o Beto, numa das noites, bebeu além do normal. Saiu do baile cambaleando pela rua. Resolvemos ir atrás dele e o encontramos brigando com uma...Kombi? Ele se descuidou, olhando pra trás, e quando voltou o rosto, deu com o próprio no vidro traseiro da perua. Começou a xingá-la, como se fosse uma pessoa. Tivemos de segurá-lo quando a lataria começou a amassar.
- Você estava discutindo com uma Kombi, seu maluco!
- Aquela filha da p...
Outro dia, voltava para casa, quando estacionou em frente à padaria da rua dele. Comprou um maço de cigarros e seguiu a pé para casa. Na manhã seguinte, entrou na garagem do sobrado e, cadê o carro? Foi até uma delegacia e registrou um boletim de ocorrência. Pegou o B.O., foi até o despachante para dar entrada no seguro, tomou um taxi e foi trabalhar normalmente. Por volta das quatro da tarde o pai liga. “Filho, por que você não foi trabalhar de carro? Roubaram? Roubaram, nada, filho. Está parado bem em frente da Padaria do Onofre”.
Semana passada o Beto me liga:
- André, encontrei a mulher da minha vida . To perdidamente apaixonado. Dessa vez eu desencalho.
- Finalmente, cara, parabéns. Eu a conheço? Como ela se chama?
- É...putz, deu branco! Não lembro se é Soraia ou Magali...