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sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Cuidado com a Izildinha

Existem dois tipos de mulheres que me amam: As gordinhas, talvez por eu ser magrelo, e as velhinhas, talvez por que eu tenha cara de neto ou porque gostem de transmitir sabedoria, sei lá.
As pessoas mais próximas a mim sabem que já precisei andar armado, por pura segurança. Gracias a Dios este tempo passou. Mas era tudo legalizado: registro, licença, porte. Eu fazia a "sangria" do caixa da minha cantina escolar e levava para o banco. Como a gurizada só paga com dinheiro em espécie, eu andava de malote cheio pela rua. Como a agência com a qual eu trabalhava não tinha estacionamento, o jeito era ir a pé.
Certo dia, estou na fila do caixa, quando uma velhinha, ao passar por mim rumo ao guichê preferencial, percebeu o grosso cabo da minha pistola aparecendo por baixo da minha camisa. Descuido imperdoável. Então, ela parou na minha frente e disparou:
- Meu Deus! O senhor vai assaltar o banco!
- Não, minha senhora, não vou.
- Claro que vai!
- Não, não, pode ficar tranquila.
- Por que alguém vai armado ao banco, se não for para assaltar?
- Senhora, fale baixo.
- Está vendo? Não quer que percebam suas intenções.
Pensei em levar minha arma até o vigia, na companhia da velhinha, para tranquilizá-la. Peguei no ombro dela, e:
- O senhor vai me fazer refém, não vai?
Larguei o ombro imediatamente e olhei para trás. A fila virou um imenso clarão. Todo mundo caindo na maluquice da velha.
- Senhora, eu tenho licença para andar armado.
- Que men-ti-ro-so!  Tome, é tudo o que eu tenho. Só não me machuque - disse me estendendo uns reais.
- Não quero seu dinheiro, minha senhora.
- Ah, quer o graúdo que fica no cofre, né?
- Eu...
Num gesto rápido, ela retirou uma correntinha do pescoço e a atirou no meu pé.
- É de ouro, viu? Todo bandido gosta de ouro.
De repente ela se ajoelhou, uniu as palmas das mãos e começou:
- Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco...
Tentei levantá-la pelos braços, mas ela:
- Me larga! Além de assaltar, vai querer me estuprar? Tenho idade para ser sua avó!
Larguei-a imediatamente, outra vez.
A gerente da agência percebendo certo tumulto, veio ver o que acontecia.
- Inês, graças a Deus! Esta senhora está achando que eu vou assaltar o banco...
- Acho, não, tenho certeza! - Falou a velha lá embaixo e prosseguiu - Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos...
- Tome, Inês, guarde a minha arma com você.
- Vocês são comparsas? - A velha replicou lá do chão.
- Sou a gerente da agência, senhora, fique calma.
A velhota girou o corpo para uma funcionária do caixa e viu uma confirmação com a cabeça.
- Hum...Ah...ah...seja cavalheiro, meu jovem, ajude aqui a me levantar.
- É o que eu estava tentando fazer. - falei baixinho com os dentes cerrados.
- Por quê o senhor vem ao banco armado? - Bem que poderia ter sido esta a primeira pergunta dela, saco!
- Para segurança própria, minha senhora, eu transporto valores diariamente. - falei mostrando-lhe meu malote.
- Ah...então o senhor é um homem muito rico, né?
- Não, minha senhora.
- Lógico que é! - Quanto custou seu revólver? É um revólver chique, brilhoso, desses que a gente só vê em filme.
- Não me lembro quanto paguei, desculpe.
- Tá vendo? É tão rico que nem sabe quanto pagou!
- Não sou, por favor.
- Claro que é! Só quem é muito rico transporta tanto dinheiro. Olha o tamanho da sua bolsa. Pensei até que tinha outra arma aí dentro.
- O volume é grande, mas são notas de pouco valor, minha senhora.
- Ah, não tente enganar esta pobre velha. E trate de devolver minha correntinha. Se quiser, pode comprar uma igual ou bem melhor.
Abaxei-me para pegar e tive vontade de arremessar a porcaria no nariz dela.
- Se o senhor não é bandido nem muito rico, o que o senhor é?
- Apenas um comerciante, minha senhora, apenas um comerciante.
- Ah...muito prazer - estendeu-me a trêmula e enrugada mão - meu nome é Izilda, mas pode me chamar de Izildinha. Todo mundo aqui do bairro me conhece. - Imagino!, - pensei.
- Sou André. Olha, o caixa está livre - apontei.
Finalmente, a velha me largou, chegou ao caixa e, na pontinha dos pés, cochichou um pouco alto com a funcionária: "Não é por nada não, mas tome cuidado com o moço de camisa verde ali na fila. Ele é completamente tam-tam".