Meu falecido irmão, certa vez, visitou a casa do Paulo Vanzolini, compositor de “Ronda”, a surrada e campeoníssima canção da boemia paulistana. Voltou de lá com um LP surrupiado do músico. Por quê? Além do fato de que ele adorava sacanear os amigos, a capa do exemplar trazia uma dedicatória escrita por Chico Buarque, de quem o mano era fã incondicional.
Acabei herdando o vinil e, quando foi aposentado pela era do CD, enviei junto com meu recem ultrapassado aparelho de som para a chácara que minha irmã havia adquirido.
Tempos depois, aproveitando que a propriedade estava deserta, ladrões entraram e roubaram vários eletrodomésticos, incluindo o toca-discos e todos os LPs.
Passados alguns dias, eu estava assistindo a um jornal na TV, quando uma reportagem informou que a polícia havia desmantelado uma quadrilha que assaltava residências no interior.
O camera man aproximou a lente de um amontoado de bugigangas que os bandidos haviam deixado no local. Sobre a pilha, em primeiro plano, pude reconhecer a capa do LP. Quase deu para reler as palavras em caneta azul.
Foi a última vez que vi, ao vivo e a cores, uma dedicatória de próprio punho do Chico. E, convenhamos, Chico é Chico.