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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Olhos De Águia

Chego em casa, sexta-feira, ali pelas 8 da noite. Meus moleques cochilam num dos sofás. A LCD relata, pra ninguém, as notícias do dia. Penso em tomar um banho, quando lembro que me deparei, mais cedo, com uma descostura nas calças que estava usando. Coisa pouca, uns 3 centímetros. Resolvo consertar. Localizei a caixinha de costura, servi-me de um scotch. Peguei um carretel de linha preta, uma agulha e: quê de enxergar o buraco da agulha? Tento, tento, tento. Essa agulha deve estar com o buraco entupido. Pego outra. Tento, tento, tento. Meia hora depois, desisto. Preciso melhorar a iluminação da casa. De repente, toca o celular:
- André? Quê está fazendo?
- Boa noite, Senador. Eu estou tentando costurar.
- Costurando? Novas alianças? Me conte...
- Ah, não, costurando no sentido literal.
- Quê?
- Linha e agulha, mesmo. Faço isso desde...
- Tira uma foto e me envie. Vou gozar você uma semana! Ligue na CNN. Estão mostrando um furo de reportagem muito interessante.
Desligou. Resolvo deixar a costura pra amanhã. Quem sabe se, com a claridade do dia...
Pego o livro que estou lendo. Caramba! As letras estão dançando. Afasto os braços, aproximo os braços. Que está havendo? Verifico as lâmpadas do lustre: Todas ok. Desisto, melhor assitir TV. Ponho num canal que está passando um suspense alemão. Não entendo o que os atores falam. Que legendazinha mais sem-vergonha. Pequenininha assim, ó. Não dá pra ler. Desligo a TV, melhor dormir.
Sabadão chegou. Acordo todo animado. Tomo um banho e vou me vestir. Escolho uma camisa no armário. Catzo! Está toda amarrotada! Tudo bem, vou repassar. Pego o ferro de passar roupas, ligo na tomada e, cuidadoso que sou, resolvo verificar qual a temperatura mais adequada para alisar aquele tipo de tecido. Tem um quadrinho informativo colado no cabo do ferro. Tento ler, tento ler. As letrinhas estão meio apagadas. Ficam bailando. Afasto, aproximo, afasto, aproximo. Nada de decifrar. Acabo escolhendo outra roupa.
Vem o domingo. Domingo, a cozinha é minha. Visto o avental, pego o caderno de receitas e vou folheando. “Canard au Vin”. É esse, concluo. Vou ler os ingredientes. Hum...hum...não consigo. Chamo um dos meus Joões:
- João Pedro, vem cá me ajudar!
João Victor aparece, avisando que o irmão está no chuveiro. Peço ao caçula que leia a receita. 1 pato inteiro; 3 xícaras de vinho tinto; 2 colheres de sopa de azeite...
Duas horas depois, estou lavando a louça, quando escuto:
- Meu, o papai ta mó cegueta!
- Geral! Não enxerga mais nadinha.
- Fala pra ele.
- Num sô besta. Fala você...
E é quando intercedo:
- Ô, manés! To ligado, ouviram? Só pra provar que minha visão está perfeita, vou agendar um oculista. Aliás, dá pra alguém ler aqui o número do telefone da clínica?