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domingo, 17 de outubro de 2010

Bichos Adoráveis



Sempre tive problemas com animais. Eles sempre me sacanearam.

Lembro-me de que, bem pequeno, fui com meus pais a uma festa de agronegócios. Passeávamos pelas atrações quando notei uma roda de adultos rindo e aplaudindo alguma coisa no interior do círculo de gente. Larguei a mão deles e corri para ver do que se tratava. Ao colocar a cabeça entre as cinturas dos adultos, percebi que um homem, no centro, fazia números com um chipanzé adestrado. Não deu tempo pra mais nada. O macaco deu um salto, pegou-me pelos cabelos e meteu-me um tabefe que me jogou longe. O evento, pra mim, acabou ali.

A molecada toda curtia caçar passarinhos com estilingue. Eu tinha o meu. Nunca peguei um bichinho, mas perdi as contas de quantas vezes uma das tiras de borracha esticada desprendeu-se do Y, vindo bater violentamente no meu rosto.

No meu sétimo aniversário, ganhei um pastor alemão. Que sonho! Que pesadelo! Quando filhote, mastigou todos os meus brinquedos, inclusive o par de tênis que fiquei meses implorando pra ganhar. Tornou-se um macho forte e bravo...comigo. Eu era a única pessoa em que ele adorava avançar.

Um dia, um amigo do meu irmão mais velho apareceu com uma espingardinha de ar comprimido. Olhei praquilo como se estivesse vendo Jesus descer à terra. Que maravilha! Pedi emprestada por umas horas, prometendo que não voltaria de mãos abanando. Um tempo depois, com a caixa de chumbinhos quase acabando e sem conseguir nada - minha pontaria não acertaria um boi a cinco metros -, resolvi apelar: Peguei uma grana, fui à casa de uma senhora que vendia pombos e comprei um (até hoje não sei pra que alguém compraria pombos, além de mim). Pus a ave deitada no chão, prendi-a com um pé, encostei o cano da espingardinha bem na cabecinha, pra não ter perigo de errar, e atirei. Soltei o pé e a danada saiu voando até o telhado mais próximo. Pousou e ficou me olhando. Tenho certeza de que ria de mim. Catso, tinha esquecido de colocar munição! Não desisti. Armei a espingarda, mirei e disparei. O chumbinho acertou a travessa de madeira do telhado e voltou diretamente para a minha testa. Na mesma hora, cresceu-me um calombo enorme que, se lembro bem, levou um mês pra sumir. Ainda estava meio grogue, quando olhei pro quintal do vizinho e vi um galo “fazendo mal” a uma galinha. Que sem-vergonha! Armei e mirei na asa dele. Se acertar na asa, não mata, já tinham me falado. As penas protegem. Mirei, mirei e pimba! O chumbinho transpassou o pescoço do infeliz. Menos de quinze minutos depois a vizinha estava aos berros com a minha mãe. Trinta dias sem sorvete pra mim.

Eu vivia numa cidadezinha do interior e tinha um coleguinha de escola que morava numa fazenda. Certa vez, combinamos de brincar na minha casa. Ele veio montado a cavalo. Achei lindo o bichão e pedi para dar uma volta. Recebi as instruções: para virar pra esquerda, puxe a rédea da esquerda; pro lado oposto, rédea pra direita; pra frear, puxe as duas; pra andar, bata levemente com os calcanhares na barriga dele. Moleza! Montei no bicho e comandei que andasse. Só que o idiota do cavalo resolveu voltar pra fazenda. Não houve comando que o fizesse mudar de idéia. Me fez de mero passageiro. Só parou quando chegou no estábulo. Tive de voltar caminhando pelos vinte quilômetros que separavam a fazenda da minha casa, debaixo de uma puta chuva.

Já adulto, minha esposa apareceu em casa com um filhote de cão da raça Akita. “Rivaliza com pit-bulls na escala de agressividade” – disse-me. Nunca vi cachorro mais manso. Certa vez, um parente veio nos visitar, com um poodle nos braços. O cãozinho partiu pra cima da minha “fera”, que, pra evitar o confronto, atirou-se na piscina. Quase morri de vergonha.

Tempos depois, morando num prédio, comecei a ser acordado todo santo domingo, às seis da manhã, com o latido fino, escarnecido e interminável, proveniente do apartamento de baixo. Liguei pro PSIU. Se não era música alta, não era com eles. Liguei pro Canil Municipal, só atendiam em caso de cães soltos na rua. Recorri à prefeitura. Só atuariam se a perturbação fosse noturna. Pô, seis da matina de domingo ainda não é “de dia”! Depois do elogioso “seu burro” dito pela minha mulher, resolvi seguir a sugestão dela: liguei na portaria do prédio e pedi pra falar com o síndico. O síndico, pra minha imensa sorte, era justamente o morador do apartamento de baixo.

Mudei de prédio. Meu problema apenas mudou de espécie. Na casa vizinha, há uma árvore em que vive um pássaro cujo pio eu jamais havia ouvido. Se bem-te-vi leva esse nome pelo som que emite, minha ave vizinha deveria ser chamada de griiii-tiu-tiu-tiu-tiu-tiu-tiu-tiu-biro-biro. E o pior, além dos cem decibéis do ruído, é que o bicho começa ali pelas duas da manhã e para por volta das oito. Acho que pensa: “Agora que precisa levantar pro trabalho, humano estúpido, é minha hora de dormir”.