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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

C.V.V., Boa Noite

Não me perguntem o porquê, mas meu celular não para de tocar. Lembram do Centro de Valorização da Vida, aquele disque-desgraça? Pois é, perdeu pra mim. Mas o engraçado é que ninguém me liga pra reclamar das dívidas ou de problemas de saúde ou porque bateu o carro ou porque quer se matar. É sempre o mesmo assunto: O amor.
Justo eu, que não entendo lhufas de amor. Querem que eu resolva os problemas deles, sendo que eu não consigo resolver nem os meus. O amor não tem bula, fórmula ou regras. Não é certo, nem errado. Não escolhe raça nem religião. Como na música Loves´s in the air, flutua em toda parte, como uma gripe que a gente pega sem saber onde. É mais estranho que os quadros do Picasso. Não dá pra medir, nem pesar. Não tem cor nem cheiro. É como briga em estádio: Você sente a pancada, mas não sabe de onde partiu. Não segue lógica nem razão. Não conseguiu ser explicado nem pelos maiores filósofos gregos. Não poupa gente nova, nem gente velha. Dói mais que pedra nos rins, mas não existe Buscopan pra ele. Ele te pega, te vira de ponta-cabeça e te joga no chão, que nem os tornados americanos. Não tem hora pra chegar e muito menos pra ir embora.

- Andre? É a Gisele. Cara, estou “de quatro” pelo Pacheco, infelizmente não no sentido literal. Quê me recomenda?
- Tente o sentido literal.

- E aí, brother? Meu, eu dava tudo pra ficar com a Marcela, mas ela não larga aquele trouxa. Dou uma surra nela ou nele?
- Mas não é aquele sujeito gigante?
- Sim.
- Então, dê nela.

- Fala, mano. Putz, estou encrencado. Fiquei perdidamente apaixonado por uma gata que é casada.
- Bem vindo ao clube.
- Cara, eu falei pra ela que topava dividir. Nem precisava ser meio a meio. Que ela podia continuar amando 70% o marido dela. Me contentaria com 30%. Não entendo o amor...
- Evandro, não é o amor que você não entende, e sim as mulheres. Com mulher é tudo ou nada, não tem essa de meia calabresa e meia mussarela.
- E o que eu faço?
- Faça como eu, se jogue do alto de um prédio.

- Oi, menino, é a Claudinha. Preciso te contar uma coisa: estou amando a Mariana. – Êta tempos modernos!

- Quero me casar com ele.
- Mas ele já é casado.
- Mas eu quero me casar com ele.
- Surda! Ele já é casado.
- Mas eu quero me casar com ele.

- Caramba! Ela é tão linda que nem percebi que era um travesti.
- Deu tempo de descobrir antes da hora H?
- Sabe como é...

- Sou eu. Rapaz, sei que não devia, mas estou apaixonado.
- Por quem?
- Por quem, não, pelo quê. Estou apaixonado por outro partido.
- Ah, deputado, vá se catar.

- Putz! Estou dividido entre a Vilma e a Carol. Não consigo escolher entre a juventude da filha e a experiência da mãe.

- Andrezinho, como eu faço para levar o Bruno para a cama?
- Só se forem a uma loja de colchões. Querida, o Bruno é gay.

- Amigo, conheci um garoto que é uma gracinha. Só estou esperando ele completar 18 anos para levá-lo a um motel.
- Karina, tome vergonha, você já está cinquentona.

- Olha, se é ético ou não, estou envolvido com uma paciente.
- Que nojo, Tomás, você é veterinário!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

É Engano

O rapaz está terminando de barbear-se quando toca seu celular. Ele pede que a esposa o atenda:
- Alô?
- É a Renata. Posso falar com ele?
- Só um minutinho. Ela coloca o aparelho sobre a pia do banheiro, avisando que é uma tal de Renata.
- Pois não?
- Oi, Binho.
- Binho? Não sou Binho. Acho que você ligou errado.
- Nossa, Binho, sua voz está diferente.
- Moça, você discou um número errado.
- É ela, não é?
- Como?
- Não se faça de besta. Quem atendeu o telefone. É sua ex-mulher, né?
- Olha, não estou entendendo nada. Escute, amiga, verifique o número que você discou.
- Amiga? Quando eu me entrego na cama pra você, não sou sua “amiga”, né? Seu...seu...monstro.
O rapaz desliga a ligação.
- Só tem gente maluca neste mundo!
Meio minuto depois, novamente o celular:
- Alô?
- Por que você desligou na minha cara?
- Porque você está ligando para um número errado.
- Lógico que não.
- Moça, vou desligar novamente.
- Grosso! Pode desligar 20 vezes, que eu ligo 21 de novo.
- Só estou pedindo que verifique o número que você teclou.
- Bandido. Dizendo que ia sair de casa, que não queria mais nada com ela. Que ia refazer sua vida comigo, que já tinha contado tudo, que me amava. Mentiroso!
- Não lhe disse nada disso, moça, eu nem a conheço. Por favor, verifique o número.
E, mais que a ligação, o rapaz decidiu desligar o aparelho.
- Rubens, quem era a moça? – perguntou a esposa.
- Sei lá, uma doida. Liga pro número errado e fica insistindo. Vou deixar o aparelho desligado um pouco, pra ver se ela desiste.
“Putz! Essa foi por pouco” – pensou suando frio.  

terça-feira, 28 de setembro de 2010

E Deus Criou A Mulher

Depois de mais de 5 trilhões de tentativas de criar uma espécime animal que O satisfizesse, Deus ficou de saco cheio. Todas as suas iniciativas apresentavam algum problema. A última, então, nem se fala. A criatura, mais conhecida como pato, nadava, andava e voava, mas não fazia nada disso direito. Foi aí que Ele resolveu mudar a versão do Windows Home Edition, que dá pau desde que o mundo é mundo. Migrou para a versão Professional. E não é que Melhorou bastante? E, assim, criou o Homem. Ele gostou, de forma geral, mas fez uma careta: aquele treco pendurado entre as pernas ficou horrível. Aí, Ele pediu ajuda pro Hans Donner, que tem um software de efeitos especiais fantástico.
E deu-se, um ser no mais puro estado da arte: A mulher estava criada. Ele olhou o que fez, balançou a cabeça em sinal afirmativo. “Putz! Acertei a mão, desta vez”. Aquela coisa pendurada do Adão também aprovou. Deu pra notar na hora. Deus viu o entusiasmo do Adão e pensou com seus botões: “E imaginar que um dia Vou ter de criar o Viagra...”
Mas a mulher não era exatamente com é hoje.
A começar que era peluda, já que a profissão de depiladora ainda não estava regulamentada.
Também não era loira, como hoje todas são. O cabelo até chegava a ser meio crespinho, porque se Ele já havia criado a luz, ainda não havia pensado no modelo de plug do aparelho de fazer chapinha.
Outra coisa muito diferente é que os seios da Eva eram pequenos, até meio caidinhos. Esse negócio de 200 ml de silicone demorou uma eternidade para Ele descobrir.
Para surpresa de muita gente, Eva não sabia dançar funk. Quando Adão inventou a garrafa para poder estocar cerveja, Eva já se sentia meio velha para dançar na boquinha de uma delas. “Todo mundo vai rir de mim, ponderou”.
Mas Eva não se sentia totalmente agradecida a Deus por ter sido criada. “Não precisava me encher de celulite e de estrias”.
Eva pensava o dia todo, já que não sabia falar, pra felicidade do Adão. Um dia, do nada, passou a ter vergonha do corpo. “Ah, Pai, estou gorda”. Daí começou a se cobrir com folhas de parreira. Mas logo ficou enjoada e começou a se cobrir com folhas de outras cores. Praticamente não repetia o mesmo modelo de planta.
Adão, por sua vez, teve uma vida bem razoável. Pouco afeito ao trabalho, contentava-se com o Bolsa-Família. Sua principal decepção, porque corinthiano desde criancinha, foi passar a vida esperando ver o Timão ganhar uma Libertadores. Morreu sem ter esse prazer. Vivia bem com a Eva, apenas a acusava de ser um tanto desinformada. Paciência, pedia o Criador, a revista Caras ainda não havia sido lançada. Viviam nessa vidinha modorrenta, sem um único shopping para torrar grana, quando, um dia, pra azar deles, conheceram a serpente. Maldosa pra cacete, os fez comerem a maçã. Ô maçãzinha cara, Cara. O Bom se fez de Migué e deixou o casal se ferrar tendo de criar 3 filhos. Sabe quanto custam 3 filhos? Adão reclamando que a grana não dava, Eva chiando por causa da cintura que não afinava e porque os meninos estavam ficando muito malcriados e briguentos. “Qualquer hora um moleque acaba matando o outro” – pensou.
Aí o Todo Poderoso resolveu que tinha feito muita hora-extra e que já era tempo de se aposentar, apesar do INSS mandar só aquela merreca.
Como último ato, resolveu conceder à Eva a capacidade de falar.
Deu no que deu.

A Utilidade das Coisas

Conhecem a real utilidade das coisas?
Por exemplo: Pra que serve o dedinho do pé? Para dar aquela topada no pé da cama.
E guarda-chuva? Pra esquecer num lugar que você nem imagina qual tenha sido.
Pra que servem os óculos? Aí depende: No rosto é para colecionar digitais. Preso na cordinha em volta do pescoço vira depósito de farelo de pão.
Celular? Para levar multa no trânsito.
Caneta serve para assinar cheque sem fundo.
Pêlos, para que servem? Nas mulheres, para serem arrancados. Nos homens, para enfeitarem dentro da orelha.
Meias servem para feder.
Avião foi feito pra gente morrer de medo.
E arroz? Apenas para grudar no fundo das panelas.
Pra que serve taça de cristal? Para quebrar, óbvio.
Salada com maionese serve pra pregar você no vaso sanitário.
E chuva, pra quê? Para cair sempre que você esqueceu o guarda-chuva.
Para que serve o trânsito? Para não fluir.
E despertador? Para avisar, todo santo dia, que você está hiperatrasado.
Garfo e faca servem simplesmente para deixar a gente sem saber qual a mão certa para pegá-los.
Pra que serve ônibus? Para provar que dez pessoas cabem em dois metros quadrados.
Gravata é para receber respingos de molho de macarrão.
Privada foi feita para entupir.
Bolsa feminina? Nenhuma mulher sabe ao certo, e,  na dúvida, elas guardam tudo o que conseguem lá dentro.
Futebol é para ver o seu time perder toda vez.
Comida baiana serve pra arder na entrada e na saída.
Missa existe pra você não ir.
Novela? Trezentos capítulos de pura sacanagem e um para ficar tudo resolvido.
Sofá, para quê é? Para dormir domingo depois do almoço.
Advogado? Para dividir seu salário com ele.
Atriz de TV serve para namorar vinte caras num ano.
E sábado? Para você beber até cair.
Salário é pra quê? Para você ter certeza que está na empresa errada. 
Botão de camisa serve para desprender toda semana.
Cinema serve pra você se entupir de pipoca.
Espelho foi criado para magoar as mulheres.
E o vento? Para guiar direitinho aquele cisco para dentro do seu olho.
E pra que serve chuveiro? Para queimar, oras bolas.
Mulher de Vizinho serve para provar ao sujeito que ele errou no casamento.
Óleo quente existe para queimar a mão da gente.
E cerveja? Para você fazer xixi a cada cinco minutos.
E shopping? Serve para você comprar tudo o que não precisava, bem na hora que não podia.
Água serve para fazer gelo pro meu uísque.
Emprego? Pra gente perdê-lo.
Roupa serve pra empregada queimar todo dia.
E restaurante? Pra alguém esconder um fio de cabelo bem debaixo do seu bife.
Computador foi feito pra não funcionar.
E chiclete? Para grudar na sola do seu sapato.
Caipirinha é para provar ao mundo que o Brasil sabe fazer algo que preste.
Fio dental serve para deixar aquele fiapinho dentro da sua gengiva.
A língua portuguesa existe para garantir que você escreve tudo errado.
E chefe? Serve pra gente ter alguém para xingar.
Senha de banco foi feita pra ser esquecida.
Dentista serve para fazer as pessoas sofrerem.
E motocicleta? Para apressar nosso encontro com o Senhor.
Cachorro existe para você lambuzar seu sapato no cocô dele.
Chocolate foi feito para atormentar as mulheres.
Para que serve vassoura? Bom, para minha sogra é meio de transporte aéreo.
E elevador, claro, foi feito pra gente soltar pum.

Dica Literária da Semana

"A Menina Que Roubava Livros", do australiano Markus Zusak. É impressionante como um escritor na casa dos 30 anos conseguiu produzir obra tão densa. O romance é ambientado na Alemanha Nazista, quando uma mãe, sem condições de sustentar a filha pequena, a entrega para outra família. O livro é triste, chegando a levar leitores mais sensíveis às lágrimas, mas é uma grande obra".

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Secretária Temporária

Sexta-feira eu estava trancafiado na minha sala, quando a secretária informou que havia uma pessoa do RH querendo falar comigo.
E o que era para ser apenas um comunicado formal transformou-se numa deliciosa viagem mental, com meia-hora de pura gargalhada.
- Oi, Viviane.
 - Oi, André, tudo bom? Bem, é que a Fernanda sai hoje de férias e nós contratamos uma secretária temporária para você.
- Ah, eu soube. Li o e-mail. Ela começa na segunda, né?
- É, mas eu preferi vir aqui antes, para prepará-lo. Apenas para ter certeza que você não vai dar vexame quando ela se apresentar.
- Por quê? Tem algo de errado com ela?
- Com ela, exatamente, não. O problema está no nome dela.
- Hum?
- Vou soletrar: X-A-N-A.
- Xaná?
- Sem acento.
- Xana?
- Isso aí.
- A moça se chama Xana?
- Hum-hum.
- Cê ta de sacanagem.
- Pior que não.
- Viviane. Deve haver um milhão de candidatas no mercado e você me arruma uma “Xana”?
- Era a melhor candidata.
- Pô, é só por um mês. Eu não vou pagar um mico desses. Não dá pra arrumar outra, não?
- A gente não pode fazer discriminação por causa de um nome ridículo.
- Sabe, a palavra é bem bonitinha – ri – mas não para nome de gente. Como é que um pai e uma mãe batizam uma filha com esse nome? A coitada deve ser zoada o tempo todo.
- Não tenho dúvida disso.
- Xana de quê?
- Xana Pereira da Costa.
- Putz! Passou perto de ser Xana Perereca.
- É.
- Não dá nem pra por apelido. Já pensou? E nem é nome composto. Podia ser Xana Maria, Xana Gabriela, sei lá. A gente podia chamar pelo segundo nome, né?
- Por isso quis vir alertá-lo. Imagine se ela fala o nome e você cai na gargalhada?
- Xana da Costa. Aí alguém vira e diz: “Ué, mas Xana não fica na frente?
- Igualzinho ao nome da goleira da seleção brasileira de handball.
- Lembra da atriz Suzi Rego que se casou o Paulo Cesar Grande? Já pensou se essa moça se casa com um cara de sobrenome Pinto? No shopping: “Atenção, dona Xana, seu Pinto a aguarda atrás do balcão de informações”. Ou então, estou com dúvida se vou almoçar com ou sem paletó e alguém avisa: “A Xana está até suada de tão quente que está lá fora”.
- Vivi, vão me zombar, nêga. Imagine uma funcionária vindo me procurar: “Seu André, vim buscar a documentação” – respondo: “Pega com a Xana” – ou então: “Converse com a Xana do André, por favor”. Pô, eu não merecia isso.
- Já pensou ela voltando do almoço embaixo de chuva e alguém dizer: “Putz, está chovendo, olha só a Xana toda molhada”.
- Ou então: “Prefiro me relacionar com a Xana. Ela é muito mais aberta”
- Já imaginou se ela sofre uma queda e machuca a boca? “Os lábios da Xana estão sangrando”.
- Imagine ser chamada na sala de espera do ginecologista, antes de fazer um Papa Nicolau? “Xana!” – “Sim” - respondem todas as mulheres - “Mas de quem?”
- E no cabeleireiro? “Aninha, corte o cabelo da Xana?”.
- E em casa? “Xana, melhor ir se lavar. Você está cheirando azedo”.
- No fim de semana: “Alfredo, que acha de irmos até a Xana pra um beijinho nela?”
- “A cada dia que passa a Xana fica mais metida!”
- “Nossa, viu como a Xana ficou bronzeada”.
- “A Xana está roxa de raiva.”
- “A Xana está cheia de problemas médicos!”
- “É Xana pra lá, Xana pra cá. Acho que você só pensa na Xana”.
- “Oi, Xaninha. Você está com um cheiro maravilhoso!”
- “A Xana ficou entupida de tanto chantili”.
- “Valei umas verdades e a Xana ficou de beiço virado”.
- “Era mentira. Acho que a Xana não engoliu aquilo tudo”.
- “Cara, você não tem dó da Xana, mesmo, hein?”.
- “Pega leve, meu. Assim você machuca a Xana”.

E foi assim que terminamos a tarde no escritório. O povo do lado de fora da minha sala ficou sem entender tanta gargalhada. E, na segunda, precisei me conter ao máximo quando a moça se apresentou.

sábado, 25 de setembro de 2010

Poesia Para Quem Aprecia - Parte XVII - "Que Dor É Essa"

Que dor é essa
Que me faz chorar
Que ninguém explica
Que não tem remédio?

Que dor é essa
Que me faz curvar
Que me tira o sono
Que não cicatriza?

Que dor é essa
Que não quer passar
Que me rouba a fome
Que me toma a mente?

Que dor é essa
Que só faz aumentar
Que me consome o dia
Que me pesa aos ombros
Que me deixa tonto?

Que dor é essa
Que me faz delirar
Que encharca minha vista
Que espanca meu orgulho?

Que dor é essa
Que rompe meus conceitos
Que causa calafrios
Que estanca minha voz?

Que dor é essa
Que treme minhas mãos
Que burla minhas regras
Que tapa meus ouvidos?

Que dor é essa
Que me põe no chão
Que seca minha boca
Que sangra o meu peito?

Que dor é essa
Que eu não procurei
Que eu não merecia
Que eu não sei medir?

Que dor é essa
Que nunca envelhece
Que muda meus sentidos
Que apenas me diz não?

Dor que não cala
Dor que não dorme
Dor que não some
Dor por você.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Conversa Alinhada

- Arnaldo?
- Arnaldo?
- Nem vai dizer "Fala"?
- Fala.
- Arnaldo, vou deixar esta casa.
- Traz um vinho quando voltar?
- Não estou indo ao supermercado.
- Supermercado é mais barato.
- Você não me escuta, mesmo, né?
- É verdade, pega o controle na mesinha e aumenta o volume. O Galvão Bueno está meio afônico.
- Vou precisar de dinheiro para me sustentar.
- Pega ali na minha carteira.
- Talvez eu precise vender o carro.
- Passa no posto e abastece, que tá quase na reserva.
- Nem sei por que mantive até hoje esse casamento.
- Hoje, nada, o convite chegou faz 2 dias.
- Você não liga pra nada.
- É, preciso trocar a lâmpada.
- Você ficou até gordo de tanto desinteresse por mim.
- Ah, traz presunto magro. Engorda menos.
- Eu fico me perfumando, me penteando a toa.
- Tá tudo lá na penteadeira do banheiro. Putz, pra mim foi pênalti.
- Você trata tudo como se fosse brincadeira.
- Brincadeira, nada, esse jogo vale 3 pontos.
- Eu quero me separar.
- Deixe, que depois a empregada separa.
- Você está cego.
- Ah, já marquei oculista.
- Eu fico andando pela casa com sorriso amarelo.
- Já falei pra trocar de pasta de dente.
- Vou ligar e pedir pra ficar uns tempos com a minha mãe.
- O celular tá sem bateria. Use o fixo.
- Não percebe que você me faz mal?
- Tem Sonrizal na caixinha. Caramba, na trave!
- Vou desistir de fazer você entender o que eu sinto.
- Já falei pra marcar um médico.
- Vou fazer minhas malas.
- Eu descarrego quando você voltar.
- Adeus.
- Até mais. GOOOOOOOOL. 

Afonso José Santana

Esse texto não é meu. Foi escrito em 2.006 por Afonso José Santana, que não conheço.
 
"Eu a vi pela primeira vez quando caminhava, pensativo, dentro do shopping. Tinha os cabelos escuros que voavam ao sabor do vento. Chegavam quase até os ombros. Tinha aquele jeito feminino de fazer os cabelos dançarem chacoalhando a cabeça para trás. Eram curtos e lisos. O andar era como o farfalhar das folhas no outono, como eu nunca vira antes. Era extremamente feminina. Eu não conseguia desviar os olhos. Aliás, os olhos pareciam duas amêndoas brilhando num rosto angelical. Era como se eu estivesse enfeitiçado. Num determinado momento ela parou, consultou o relógio, sentou-se num banco que havia no shopping, cruzando as pernas. O cruzar das pernas a tornava ainda mais totalmente feminina. Eu a olhava sem cessar. Em determinados momentos ela me olhava e eu, discretamente desviava os olhos. Segundos depois a olhava novamente. Não tinha como não fazê-lo. Olhando mais detalhadamente vi que tinha sardas (as sardas, no meu modesto pensar, dão o toque sutil à cútis da mulher). Deveria ter seus 40 anos, mas a mulher de personalidade nunca aparenta a idade que tem. Tem sempre bem menos idade. Seus lábios, pude ver sutilmente, eram torneados, como os lábios de uma mulher de uma mente brilhante (às vezes algumas características físicas têm a ver com as características da sua personalidade). De repente nossos olhos se cruzaram. Não consegui desviar, ela também não. Parecia uma magia. Sorrimos um para o outro e logo o desfizemos. Ambos ficamos sem jeito. Resolvi que não poderia perder a chance de conversar com ela, ou eu ficaria me remoendo o resto da vida por não ter arriscado. Escondi o relógio, levantei-me e, olhando as vitrines para disfarçar, me aproximei dela e perguntei-lhe as horas. Ela me respondeu com a extrema educação que só mulheres de personalidade têm, com um belo sorriso nos lábios (ah, que sorriso! Que lábios!) engasguei por alguns segundos mas arrisquei umas palavras. Aí a conversa desandou. Conversamos coisas do dia a dia, coisas pra passar o tempo... aí arrisquei: poderíamos tomar algo? Me acompanharia? Veio a resposta fatal: puxa, agradeceria muito, mas estou esperando alguém! (a terrível resposta não esperada!). agradecí, claro que terrivelmente abalado, disse um até logo e me afastei. De repente me virei, já bem longe dela, e resolvi vê-la pela última vez, foi quando vi um homem, charmoso até, aproximar-se dela. Ela levantou-se, beijaram-se, deram-se os braços de tomaram um caminho incerto. Algumas lágrimas escorreram pela minha face. A garganta parecia estar amarrada com um cabo de aço em volta. Dei meia volta e segui meu caminho. Será que voltaria a vê-la?? E se... não, não seria possível, ela voltar ao mesmo lugar num outro dia qualquer, só pra eu vê-la novamente. Isso não poderia acontecer. Isso só pode acontecer a cada mil anos... ou mais. É até mais fácil eu ver o cometa Halley passar novamente, aproximando-se da Terra, do que eu ver essa doce mulher novamente. Até hoje nunca mais voltei àquele shopping. Faço o maior esforço pra não pensar mais naquela doce mulher. A mulher que por alguns momentos enfeitiçou minha alma, meu espírito, fez meu coração bater pela primeira vez descompassadamente. Hoje, no auge dos meus 70 anos, com meus netos e bisnetos até, ainda me lembro (como nunca consegui esquecer!) o doce balançar dos cabelos e o andar elegante como o farfalhar das folhas de outono."
 
Afonso, meu velho, não imgina como eu o entendo!

Mui Amiga - Essa Não É Para Rir

Chego ao Jacques Janine e sou conduzido à uma das cadeiras. Não preciso explicar como quero o corte porque a cabeleireira (êta palavrinha trava-língua)já me conhece. Peço uma revista para folhear. Não suporto ficar conversando em salão. A gente tem de ficar inventando assunto.
Reparo que a moça, à minha direita, está cortando o cabelão e conversa com a outra, à minha esquerda, que está fazendo os pés. Aliás, pezinhos extremamente sexies. Fico um pouco incomodado por ficar entre duas pessoas que conversam, sinto-me um muro separando-as, mas fazer o quê? Começo a folhear a revista, quando ficou impossível não ouvir a conversa entre elas:
- Amiga, ele está me traindo. Eu trabalho a semana inteira. Tenho a faculdade à noite. Tenho de cuidar das crianças, arrumar a casa no fim de semana...nunca pensei...
- Não sei, não, Cristina, ele parece tão apaixonado por você.
- Parecia, Tânia, parecia.
- Acho que você devia tirar essa caraminhola da cabeça.
- Não é caraminhola. Os vestígios são claros como o dia. Ah, Ronaldo, corte as pontas, tá? – E dá para cortar o meio? – pensei.
- De que vestígios você está falando?
- Chegadas tarde em casa, saídas furtivas mediante desculpas esfarrapadas, não tem me procurado na cama...
- Por que não o chama para uma conversa franca? Talvez você esteja só fantasiando.
- Ai, eu sei que você gosta muito de mim e está querendo me proteger, me acalmar, mas sabe que na última vez ele nem chegou lá? Brochou, acredita? Se você não fosse minha melhor amiga, acho que teria vergonha de contar.
- Que é isso, amiga? É absolutamente normal que os homens, de vez em quando, tenham esse tipo de dificuldade. Pode ter sido um estresse no trabalho, uns uísques a mais, algum problema de grana, sei lá!
- Obrigado pelo consolo, mas não para aí, não. Nunca mais me escreveu poesia, não me presenteia mais com lingerie. No último dia dos namorados, sequer me enviou flores, nem me levou para jantar fora. Lembro, inclusive, que naquele dia ele chegou muito mais tarde. Estamos casados há onze anos. Ele nunca foi assim...
- Cris, vamos lavar? – interrompeu o cabeleireiro.
Assim que a moça se afastou, a outra pegou o celular, teclou um número e falou baixinho:
- Alex, fique esperto. A Cris está super desconfiada. Vamos tomar mais cuidado.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Papinho Nas Alturas

Acabamos de decolar. Estou voltando de uma viagem a trabalho, de Ribeirão Preto.
Ajeito-me na poltrona e abro um ótimo romance que estou terminando de ler. Cheguei ao capítulo final, em que o autor esclarecerá o crime que fundamenta a trama. Estou ansioso para descobrir. E é quando recebo uma leve cutucada:
- Não entendo, moço... – vejo que é meu vizinho de poltrona.
- Perdão?
- Não entendo como é que avião voa. Um bichão desses, parar no ar. Pássaro, eu entendo. Bate as asas. Avião não bate as asas...
- É... – tento ser o mais breve possível, sem tirar os olhos do livro, para que ele perceba que não estou a fim de conversar.
- É a primeira vez que eu entro num avião, sabe? Não sabia que aqui em cima não tinha nuvem. Lá de baixo, parecia tudo cinza.
- Sim... – noto que o homem usa um chapeuzinho de palha e tem as calças enfiadas dentro das botas.
- O patrão mandou eu ir para a capital. Vai ter uma pessoa me esperando no aeroporto. Disse que vai ter uma plaquinha com o meu nome. Se ele esquecer a plaquinha, to lascado. Nunca fui pra capital. Dizem que é muito grande. Não conheço ninguém por lá.
- Sei.
- Se a pessoa esquecer a plaquinha, o senhor me ajuda?
- Basta anunciar no alto-falante. – droga, meu livro – pensei.
- Mas, como eu vou anunciar, se eu não sei o nome da pessoa?
- O seu nome.
- Ah, muito prazer, meu nome é José Aparecido da Trindade – estendeu-me a mão.
- Não, eu quis dizer...oh, desculpe, meu nome é André.
- A capital é maior que Ribeirão, né? O que o senhor foi fazer em Ribeirão?
- Trabalhar...
- É? E o senhor faz o quê? O senhor é doutor?
- Não, senhor, trabalho em escritório.
- Bonito, isso aí. Tenho um filho que ta estudando pra trabalhar em escritório.
- Ah, que bom.
- Eu, não, eu trabalho na fazenda do meu patrão. Moço, se esse avião cair, a gente morre, né? – respondi que sim, com a cabeça, sem tirar os olhos do livro, que eu já não conseguia ler.
- Deve ser pior do que batida de carro – fez o sinal da cruz.
- Muito pior.
- O senhor não tem medo do avião cair? Eu tenho.
- Eu também, mas sabe o que eu faço? Fecho os olhos e fico rezando em silêncio a viagem toda.
- É mesmo, né? Obrigado pelo conselho.
E foi assim que consegui terminar sossegadamente o romance.

Correio-Deselegante

Todo mundo conhece o "correio-elegante", aquele bilhetinho de quermesse. Recentemente, acabei funcionando como tal para uma amiga. Mas, às avessas. Na verdade, agi como um verdadeiro “correio-deselegante”.
Estava pagando a conta num restaurante, quando encontrei a Juliana, que tinha acabado de chegar:
- Oi, Jú, tudo bem, menina?
- Mais ou menos.
- O que aconteceu?
- Você acredita que o meu namorado deu em cima da minha irmã?
- Putz, que chato.
- Foi mais que chato, foi bem na minha cara.
- Pô, Juzinha, que sacanagem.
- É, dois meses jogados no lixo.
Dei tchau e voltei para o escritório. Horas mais tarde, meu telefone tocou:
- Oi, André é a Juliana, de novo.
- Oi, Jú, quanto tempo hein?
- Então, eu estava pensando se você não poderia me ajudar...
- Claro, com o quê?
- Queria que você ligasse para ele.
- Ele? Ele quem?
- Meu ex.
- Jú, tem certeza que quer reatar com esse cara?
- Reatar? De jeito nenhum. Queria que você ligasse e dissesse umas boas merdas para ele.
- Ô, Jú. Como é que eu vou ligar e xingar um sujeito que eu nem conheço? Vai pensar que eu sou um doido varrido.
- Não, André, diga que está falando em meu nome.
- Por que você mesma não faz isso?
- Nem pensar. Nunca mais quero falar com ele.
- Deixe o cara pra lá...
- Andrezinho, por favor. Pela nossa amizade, vai.
- Meu, eu só me meto em encrenca. Bom, o que quer que eu fale?
- Sei lá, pense nos piores atributos que conhecer.
- Putz! Eu vou é pagar o maior mico.
- Andrezinho...
Fiz o que ela pediu.
Primeiro, o sujeito pensou ser engano, depois, que eu era louco e, por fim, sugeriu que eu fosse praquele lugar.
Passaram-se alguns dias e recebo nova ligação.
- Oi, Andrezinho, tudo bom?
- Não me venha com Andrezinho, não. Te conheço!
- Ô, Andrezinho, não fale assim. Eu só queria pedir outro favorzinho...
- Quê é, dessa vez?
- Que você ligasse para a minha irmã.
- Pra quê?
- Você acredita que a nojenta está saindo com ele?

Programa De Índio? Não, De Japonês

Como o querido Dan Stulbach poderia corroborar, sexta-feira, 18 horas é o autêntico “fim de expediente”. Estou preparando-me para deixar o escritório, quando começo a receber e-mails de colegas sentados a menos de 10 metros de mim. “Happy hour?”. “Ok”. - “To dentro”.  - “Simbora”. - “Vamos nessa”. “Blz”. – “Hj naum dá”.
Saímos do trabalho e vamos a pé até um boteco da rua de trás. Eu, o Fred, o Almeida, o Batista e o Nakano ocupamos uma mesinha na calçada. Uma hora depois, o japa avisa que um primo chegou, apontando para um Toyota estacionando, numa vaga bem em frente ao bar. Deu uma batidela no carro da frente. Deu marcha à ré. De novo, resvalou no carro à sua frente. Recuou e colou num fusca parado atrás. “Nakano, seu primo tirou carteira por telefone?” – brincou alguém.
Algum tempo depois, o Almeida lança uma idéia:
- Que tal a gente dar uma esticada até Campos do Jordão?
- Legal, - responde o Batista – podemos marcar...
- Marcar? Vamos agora, pô! 2 horinhas. Tenho uma tia que mora lá com a minha prima, num baita casarão. A gente vai, curte a noite, dorme na casa da minha tia e volta amanhã cedo.
“Topo”. – “Topo”. – “Topo” – “Topo” – Ouvi geral.
- Estamos em seis. 2 carros?
- Besteira. A gente aperta um pouco. Ó o carrão do meu primo, aí.
- É? Ta bom. – garantiu o primo do Nakano – Liga e avisa sua tia que estamos indo.
- Cara, a velha já passou dos 80. É praticamente surda. Só sai de casa para ir à missa.
Entramos no carro e avançamos até a primeira esquina, quando percebo algo de estranho.
- Gente, tem um fusca seguindo a gente. Está grudado na nossa traseira. Que será?
Andamos mais uns metros e a situação permanece. Resolvemos descer e tirar satisfação.
Para nossa surpresa, a bola do engate do Toyota estava enganchada no para-choque do fusca. Arrastamos o carro mais de uma quadra. Conseguimos desengatar e partimos, deixando o fusquinha ali mesmo, no meio da rua, estorvando o trânsito.
Havíamos percorrido uns 40 quilômetros da Dutra, sob um temporal daqueles, quando ouvimos um estralo. O limpador do para-brisa pifou. Tivemos de reduzir drasticamente a velocidade e seguir pelo acostamento até encontrarmos um posto de gasolina: Fusível queimado.
Começamos a subir a serra. Além do temporal, que parecia nos seguir feito o fusca, pegamos uma neblina dos diabos. O primo do Nakano, pior motorista com quem já andei, ajeitou os óculos fundo-de-garrafa. Eu conseguia enxergar só dez metros à frente. Ele, certamente, menos.
- Liga o farol de neblina – sugeriu alguém.
Pra quê foi falar. No que o japonês apertou o botão, ouvimos outro estralo e o carro ficou completamente às escuras.
- Pô, japonês, comprou essa merda no Paraguai?
Fomos obrigados a descer do carro e, sob um verdadeiro toró, ir orientando, a pé, o caminho, na maior escuridão. Andamos mais de 10 quilômetros serra acima.
Chegamos à casa da tia do Almeida, quase  de madrugada. Molhados, cansados e putos com o japonês. Tocamos a campainha. Tocamos, tocamos, tocamos. Aí, ouvimos um frentista do posto de gasolina vizinho a casa:
- Êi, pessoal! A mulher que mora aí viajou. A filha dela abasteceu o carro e disse que ia levar a mãe pra Poços de Caldas.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Gabi Matusalem

Não sei o que acontece comigo. Parece que tenho cara de padre. Meus amigos vivem me ligando para confessar alguma “pisada na bola”, como seu eu pudesse ajudá-los na redenção junto ao Todo Poderoso. Outra coisa que tenho de suportar é funcionar como uma espécie de consultório sentimental, na linha do “disque namoro”. “Me ajuda a reconquistar a Paulinha?” – ou, – “Conheci um gato! Preciso que você me aproxime dele”. Pô! Não sei ler tarô, não jogo búzios, não manjo de macumba, não sou vidente e não fiz curso de magia.
Agora, inventaram que guardo escondido algum diploma de psicólogo. Semana passada foi a Adriana que me ligou choramingando que engordou. Também pudera, come feito um boi.
Ontem, foi a vez da Gabriela:

- Alô, Gabi? O Marcão está?
- Oi, André. Ta no banho...
- Eu pensei que a gente podia sair, comer uma pizza...vê se ele topa. Eu retorno daqui a pouco.
- Ai, André, que bom que você ligou...
- É?
- É, sim, eu estou péssima...
- É?
- Estou precisando desabafar um pouco. Estou ficando velha, acabada.
- Eu...eu não acho. Quantos anos você tem?
- Ô, André. Não se pergunta isso a uma mulher...
- Ué?, Mas foi você quem tocou no assunto...
- Minha cara está parecendo papel amassado. Tem mais pés-de-galinha no meu rosto que na granja do Anselminho.
- Não exagere.
- É verdade. Estou me sentindo como se estivesse com 80 anos.
- Exagerada.
- Estou pelancuda. Ta tudo caindo. Apareceu uma variz horrorosa na minha perna.
- Por que você não faz uma plástica?
- Num to falando? Até você acha que estou precisando entrar na faca.
- Gabi, eu não acho nada. Você está se martirizando à toa. Use algum creme, então.
- Algum creme? Meu rosto está tão lambuzado que, se o Marcos tentar beijar minha bochecha, vai acabar escorregando e acertando a minha orelha.
- Gabi, eu não entendo nada disso, mas o tempo passa pra todo mundo...
- Não fala assim!? Magoa, viu?
- Quanto tempo tem o seu filho mais velho?
- 17.
- Então, mulher. Já já ele vai tirar carteira de motorista, vai se alistar no exército. Logo logo você vai acabar virando avó.
- Vira essa boca pra lá. Ta de sacanagem?
Nisso, o Marcão, que saiu do chuveiro, pega o telefone:
- Alô?
- E aí, Marcão, tudo beleza? To ligando pra saber se vocês não estão a fim de uma pizza no Macedo...
- Ah, hoje não, parceiro. Acho que vou ficar aqui, assistindo TV com a minha velha.
A ligação caiu abruptamente. Não quero nem saber o que rolou do lado de lá.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Dri Balofa

Estou me preparando para sair de casa, na manhã de sábado, quando toca o telefone:
- André? É a Adriana. – a voz dela não tava legal.
- Oi, tudo bom?
- Tudo bom nada! Minha vida é uma droga! Não tenho conserto! – começou com um chororô.
- Mas, o que aconteceu, gatinha?
- Gatinha? Errou de bicho. Eu sou uma baleia. Uma baleia enoooooorme e feia...
- Como é?
- Estou gorda. Gorducha! Gordona! Gordurenta! Gordurosa! Engordurada! Meu peito está enorme, minha bunda está enorme, minhas coxas estão enormes, minha celulite está enorme...
- Calma! A gente se viu semana passada, lembra? Não vi nada de anormal. Se quer saber, você estava bem gostosinha, he he.
- Não vem tentando me enganar, não. Eu estou i-men-sa! Gigante, um barril, uma balofa, uma...
- Dri, pare de frescura!
- Até meu cabelo está gordo! Até meus dentes estão gordos! Eu não tenho mais solução! Minha vida acabou! Acho que vou me trancar num convento...
- Pare com esse drama. Não há nada de errado com você...
- 800 gramas! Sabe o que são 800 gramas? É quase um quilo de banha dentro de você.
- Ta dando esse piti todo porque engordou 800 gramas?
- Não é com você, né, benzão! André, espera só um pouquinho...
15 segundos depois, ela volta:
- ´Péra aí que estou abrindo um pote de sorvete.
- Pote de sorvete? Às 9 da manhã?
- Hum, adoro sorvete de brigadeiro...
- Dri, olha, vá pro shopping. Compre alguma coisinha. Eu tenho mais o que fazer, ta bom?
- Ta vendo? Ta vendo? Estou tão obesa que nem você quer mais falar comigo...
- Pô, você ta parecendo criança mimada.
- Mimada? Não sou mimada, sou gorda! Sou um bacon. Não, um bacon, não, uma feijoada completa! Sabia que o Renato me largou? Adivinha por quê? Por que estou gordíssima.
- Não, Dri, o Renato largou você porque resolveu sair do armário.
- Quê?
- O Renato assumiu que é gay.
- Quê?
- Você está surda? O Renato é gay!
- Quêêêê?
- Pra você ter uma ideia, ele até já me ligou com uma cantadazinha bem escrota.
- Quer dizer que eu transei 6 meses com uma bicha?
- Pois é...
- André, espera só um pouquinho...
Mais 15 segundos e ela retoma, mastigando:
- Hum...adoro pizza de calabresa. Pizza dormida é melhor que feita na hora, você não acha?
- Mas você não disse que está...
- Cara, me conta tudo, não me esconde nada! Por que vocês não me avisaram?
- Dri, eu não sei como nunca desconfiou. Ele dava cada escorregada...
- Me conta! Me conta! Hum...essa pizza...
- Dri, agora não dá. Tenho hora marcada no dentista. Outra hora a gente se fala, ok?
- Amanhã! Vem almoçar comigo e me conta tudinho. Vou fazer uma lasanha daquelas!

Dica Literária da Semana

Dica literária da semana:
Luz em Agosto, de William Faulkner, excepcional romancista, Nobel de literatura de 1949.

Beto Maluco

Conheço o Beto desde pequeno. Ele sempre foi biruta. A presença dele no meio da turma era certeza de gargalhada.
Éramos vizinhos. A molecada ficava brincando na rua até umas dez da noite, quando alguma mãe aparecia gritando no portão. Valia para todos. Era, assim, uma espécie de toque de recolher. Certa noite, após um berro, ele foi corrrendo para casa, entrou, foi para o quarto e deitou. Só um detalhe: a casa era a minha, não a dele. Acabei vendo minha mãe levando um Beto cambaleante para a casa ao lado.
 Numa ocasião, pegou uma lata de tinta à óleo verde, que o pai usava para pintar o portão da garagem e não titubeou: “vou fazer uma surpresa para o meu irmão mais velho, ele vai adorar”. Pintou - se é que aquilo podia ser chamado pintar -, toda a moto do irmão. Até o assento de couro ficou verde. Só não foi surrado à morte, porque a mãe entrou no meio.
Eu estudava na terceira série, ele, um ano mais velho, na quarta. Também éramos vizinhos de sala de aula. Lembro, naquele ano, que por três vezes ele retornou do intervalo, sentou-se ao meu lado e começou a anotar a lição, até ser percebido e expulso pela minha professora. Não sei dizer quantas vezes ele foi para na diretoria por ter usado o banheiro das meninas. Se a mãe o mandava buscar pão, vinha leite. Se fosse açúcar, chegava margarina. Quando acertava o produto, errava feio na quantidade. Uma vez a mãe precisou mandá-lo 4 vezes ao mercadinho até ele conseguir trazer o que ela havia pedido.
A mãe sofria na mão dele. Consta que um dia, fingindo um ato de loucura, partiu pra cima dela empunhando um canivete. No que ela pensou que ia ser golpeada, ele parou e soltou um "Brincadeirinha!". Pegou 30 dias de castigo. Noutra, salgou todas as jarras de sorvete ainda em estado líquido da sorveteria dela. A freguesia foi quem avisou. Perdeu uma semana de estoque. Num feriado prolongado, convidou a molecada para uma partida de futebol no estádio municipal. Quando todo mundo chegou, descobriu-se que ele havia resolvido que o jogo ia ser diferente. Distribuiu vestidos para os dois times. A turma adorou. Ao término, não sobrou uma roupa sem rasgos. E de quem eram? Da pobre da mãe dele. 
E o Beto cresceu assim. Numa manhã, decidiu, do nada, ir trabalhar fantasiado. Passou numa loja de aluguel de fantasias e alugou o traje completo do Darth Vader. Vestiu, entrou no carro e foi para o escritório. Claro que o gerente não o deixou trabalhar daquele jeito. “Pô, só porque eu sou caixa do banco?”.
Não sei como ele conseguia fazer o caixa bater no final expediente. “Bom...nem sempre eu consigo...”. Acho que não batia dia nenhum.
Certo domingo à tarde, estamos na casa de outro amigo jogando pôquer. De repente, O Beto se levantou, pegou um guarda-chuva deixado num canto, passou por nós e rumou para a sacada do sobrado. Abriu a porta-balcão, armou o guarda-chuva, virou para nós e disse apenas: “Pessoal dá um tempinho que eu vou dar uma voada”.  E não é que ele saltou mesmo? Corremos, mas não a tempo de impedí-lo. O vimos estatelado lá embaixo. Rompeu totalmente o ligamento de um dos ombros.  Acabou com o nosso domingo. Foi preciso cirurgia. E o ortopedista disse que a gente vai escutar pro resto da vida o sonoro “craaac” que o ombro dele faz toda vez que ele movimenta o braço esquerdo.
Houve um carnaval em que o Beto, numa das noites, bebeu além do normal. Saiu do baile cambaleando pela rua. Resolvemos ir atrás dele e o encontramos brigando com uma...Kombi? Ele se descuidou, olhando pra trás, e quando voltou o rosto, deu com o próprio no vidro traseiro da perua. Começou a xingá-la, como se fosse uma pessoa. Tivemos de segurá-lo quando a lataria começou a amassar.
- Você estava discutindo com uma Kombi, seu maluco!
- Aquela filha da p...
Outro dia, voltava para casa, quando estacionou em frente à padaria da rua dele. Comprou um maço de cigarros e seguiu a pé para casa. Na manhã seguinte, entrou na garagem do sobrado e, cadê o carro? Foi até uma delegacia e registrou um boletim de ocorrência. Pegou o B.O., foi até o despachante para dar entrada no seguro, tomou um taxi e foi trabalhar normalmente. Por volta das quatro da tarde o pai liga. “Filho, por que você não foi trabalhar de carro? Roubaram? Roubaram, nada, filho. Está parado bem em frente da Padaria do Onofre”.
Semana passada o Beto me liga:
- André, encontrei a mulher da minha vida . To perdidamente apaixonado. Dessa vez eu desencalho.
- Finalmente, cara, parabéns. Eu a conheço? Como ela se chama?
- É...putz, deu branco! Não lembro se é Soraia ou Magali...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Poesia Para Quem Aprecia - Parte XVI - "Taiguara"

Ô, Taiguara
Tú, que foi pressão
Mas que agora é calma
Que já foi carne
E agora é alma
Vem e me revela
O que é o amor

Tú que já fez guerra
E que agora é paz
Que já foi terra
E agora é ar
Soube sofrer
Agora sabe amar
Me aconselha
Como eu posso amar

Ô, Taiguara
Tú, que já não mora
Neste mundo cão
Olha de fora
Minha solidão
Vem cochichar
Como se deve amar

Ô, Taiguara
Tú teve a Helena
Pra te seduzir
Minha pequena
Nem me quer ouvir
Desce, e me ajuda
A conquistar
O meu amor

Tú, viveu o escuro
Mas agora é luz
Eu te procuro
Desce, e me traduz
O amor
Eu não queria amar
Assim
Como eu amei