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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mui Amiga - Essa Não É Para Rir

Chego ao Jacques Janine e sou conduzido à uma das cadeiras. Não preciso explicar como quero o corte porque a cabeleireira (êta palavrinha trava-língua)já me conhece. Peço uma revista para folhear. Não suporto ficar conversando em salão. A gente tem de ficar inventando assunto.
Reparo que a moça, à minha direita, está cortando o cabelão e conversa com a outra, à minha esquerda, que está fazendo os pés. Aliás, pezinhos extremamente sexies. Fico um pouco incomodado por ficar entre duas pessoas que conversam, sinto-me um muro separando-as, mas fazer o quê? Começo a folhear a revista, quando ficou impossível não ouvir a conversa entre elas:
- Amiga, ele está me traindo. Eu trabalho a semana inteira. Tenho a faculdade à noite. Tenho de cuidar das crianças, arrumar a casa no fim de semana...nunca pensei...
- Não sei, não, Cristina, ele parece tão apaixonado por você.
- Parecia, Tânia, parecia.
- Acho que você devia tirar essa caraminhola da cabeça.
- Não é caraminhola. Os vestígios são claros como o dia. Ah, Ronaldo, corte as pontas, tá? – E dá para cortar o meio? – pensei.
- De que vestígios você está falando?
- Chegadas tarde em casa, saídas furtivas mediante desculpas esfarrapadas, não tem me procurado na cama...
- Por que não o chama para uma conversa franca? Talvez você esteja só fantasiando.
- Ai, eu sei que você gosta muito de mim e está querendo me proteger, me acalmar, mas sabe que na última vez ele nem chegou lá? Brochou, acredita? Se você não fosse minha melhor amiga, acho que teria vergonha de contar.
- Que é isso, amiga? É absolutamente normal que os homens, de vez em quando, tenham esse tipo de dificuldade. Pode ter sido um estresse no trabalho, uns uísques a mais, algum problema de grana, sei lá!
- Obrigado pelo consolo, mas não para aí, não. Nunca mais me escreveu poesia, não me presenteia mais com lingerie. No último dia dos namorados, sequer me enviou flores, nem me levou para jantar fora. Lembro, inclusive, que naquele dia ele chegou muito mais tarde. Estamos casados há onze anos. Ele nunca foi assim...
- Cris, vamos lavar? – interrompeu o cabeleireiro.
Assim que a moça se afastou, a outra pegou o celular, teclou um número e falou baixinho:
- Alex, fique esperto. A Cris está super desconfiada. Vamos tomar mais cuidado.