Se você, caro leitor, gostar deste blog, indique-o a amigos. Boa leitura!

.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Lembranças De Um Ex-Restauranteur - Parte I - "Boca de Palhaço"

 Nos anos 90 capitaneei alguns restaurantes, e acabei por conhecer boa parte dos proprietários de outros de padrão internacional da cidade. O motivo era puramente profissional, já que eu precisava manter atualizados e com preços adequados os cardápios dos meus. Trocávamos indicações de fornecedores, prestadores de serviços, currículos de candidatos a funcionários e discutíamos a elaboração dos pratos. Para isto, eu, muitas vezes, almoçava em algum dos restaurantes deles. Eles faziam o mesmo comigo. E escolhíamos o momento de maior movimento, obviamente, o almoço de domingo, para medir e opinar sobre a qualidade do trabalho dos empregados em horário de pico. Era o tal “benchmark de mercado”.
Presenciei centenas de cenas lamentáveis, com clientes de alto poder aquisitivo destratando funcionários que apenas queriam fazer seu trabalho. Mas também vi muitas passagens hilárias, dessas que a gente não esquece mais.

Certo domingo, decidi visitar o então famoso Via Veneto, restaurante italiano que, infelizmente, não existe mais. Aos domingos, a casa, com mais de 200 lugares, “girava” 3 vezes no almoço, jargão técnico que aponta quantas vezes cada mesa é ocupada sequencialmente. A clientela aceitava enfrentar mais de hora de espera e olha que a judeusada que orbita Higienópolis é bem pouco paciente.
Naquele dia, com bastante movimento, percebo que 2 garçons estavam servindo as mesas, ambos, com os lábios completamente azuis. Cada um atendendo um lado do enorme salão. Chamei o Roberto, o proprietário, pelo celular:
- Beto, desce do escritório. Tem 2 garçons seus circulando com as bocas completamente azuis. Acho que o maitre ainda não percebeu.
- Não, deixe-os pagar esse mico.
- Por que?
- Esses 2 safados aproveitam nossa distração para irem ao estoque beber escondido em pleno horário de trabalho. Então eu passei azul de metileno na boca das garrafas que eles preferem, desliguei o disjuntor para que eles não vejam e jurei a alma de qualquer outro funcionário que pense em avisá-los.

Deixei o local mais de hora depois e ambos continuavam, inocentemente, trabalhando com suas bocas de palhaço.