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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Secretária Temporária

Sexta-feira eu estava trancafiado na minha sala, quando a secretária informou que havia uma pessoa do RH querendo falar comigo.
E o que era para ser apenas um comunicado formal transformou-se numa deliciosa viagem mental, com meia-hora de pura gargalhada.
- Oi, Viviane.
 - Oi, André, tudo bom? Bem, é que a Fernanda sai hoje de férias e nós contratamos uma secretária temporária para você.
- Ah, eu soube. Li o e-mail. Ela começa na segunda, né?
- É, mas eu preferi vir aqui antes, para prepará-lo. Apenas para ter certeza que você não vai dar vexame quando ela se apresentar.
- Por quê? Tem algo de errado com ela?
- Com ela, exatamente, não. O problema está no nome dela.
- Hum?
- Vou soletrar: X-A-N-A.
- Xaná?
- Sem acento.
- Xana?
- Isso aí.
- A moça se chama Xana?
- Hum-hum.
- Cê ta de sacanagem.
- Pior que não.
- Viviane. Deve haver um milhão de candidatas no mercado e você me arruma uma “Xana”?
- Era a melhor candidata.
- Pô, é só por um mês. Eu não vou pagar um mico desses. Não dá pra arrumar outra, não?
- A gente não pode fazer discriminação por causa de um nome ridículo.
- Sabe, a palavra é bem bonitinha – ri – mas não para nome de gente. Como é que um pai e uma mãe batizam uma filha com esse nome? A coitada deve ser zoada o tempo todo.
- Não tenho dúvida disso.
- Xana de quê?
- Xana Pereira da Costa.
- Putz! Passou perto de ser Xana Perereca.
- É.
- Não dá nem pra por apelido. Já pensou? E nem é nome composto. Podia ser Xana Maria, Xana Gabriela, sei lá. A gente podia chamar pelo segundo nome, né?
- Por isso quis vir alertá-lo. Imagine se ela fala o nome e você cai na gargalhada?
- Xana da Costa. Aí alguém vira e diz: “Ué, mas Xana não fica na frente?
- Igualzinho ao nome da goleira da seleção brasileira de handball.
- Lembra da atriz Suzi Rego que se casou o Paulo Cesar Grande? Já pensou se essa moça se casa com um cara de sobrenome Pinto? No shopping: “Atenção, dona Xana, seu Pinto a aguarda atrás do balcão de informações”. Ou então, estou com dúvida se vou almoçar com ou sem paletó e alguém avisa: “A Xana está até suada de tão quente que está lá fora”.
- Vivi, vão me zombar, nêga. Imagine uma funcionária vindo me procurar: “Seu André, vim buscar a documentação” – respondo: “Pega com a Xana” – ou então: “Converse com a Xana do André, por favor”. Pô, eu não merecia isso.
- Já pensou ela voltando do almoço embaixo de chuva e alguém dizer: “Putz, está chovendo, olha só a Xana toda molhada”.
- Ou então: “Prefiro me relacionar com a Xana. Ela é muito mais aberta”
- Já imaginou se ela sofre uma queda e machuca a boca? “Os lábios da Xana estão sangrando”.
- Imagine ser chamada na sala de espera do ginecologista, antes de fazer um Papa Nicolau? “Xana!” – “Sim” - respondem todas as mulheres - “Mas de quem?”
- E no cabeleireiro? “Aninha, corte o cabelo da Xana?”.
- E em casa? “Xana, melhor ir se lavar. Você está cheirando azedo”.
- No fim de semana: “Alfredo, que acha de irmos até a Xana pra um beijinho nela?”
- “A cada dia que passa a Xana fica mais metida!”
- “Nossa, viu como a Xana ficou bronzeada”.
- “A Xana está roxa de raiva.”
- “A Xana está cheia de problemas médicos!”
- “É Xana pra lá, Xana pra cá. Acho que você só pensa na Xana”.
- “Oi, Xaninha. Você está com um cheiro maravilhoso!”
- “A Xana ficou entupida de tanto chantili”.
- “Valei umas verdades e a Xana ficou de beiço virado”.
- “Era mentira. Acho que a Xana não engoliu aquilo tudo”.
- “Cara, você não tem dó da Xana, mesmo, hein?”.
- “Pega leve, meu. Assim você machuca a Xana”.

E foi assim que terminamos a tarde no escritório. O povo do lado de fora da minha sala ficou sem entender tanta gargalhada. E, na segunda, precisei me conter ao máximo quando a moça se apresentou.